Por Guilherme Paladino e Leonardo Attuch, do Brasil 247 – Em discurso repleto de apelos à união regional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) destacou, na abertura da cúpula China-CELAC nesta terça-feira (13), a responsabilidade histórica da América Latina e do Caribe em moldar seu próprio destino no século XXI. Falando a chefes de Estado e lideranças políticas de toda a região, Lula alertou: “Depende de nós se seremos grandes ou continuaremos a ser pequenos.”
A intervenção de Lula foi marcada por uma visão crítica e autônoma sobre o papel da América Latina no cenário internacional. Ele defendeu uma “análise justa do século XX” como chave para compreender que, após cinco séculos de história de dominação externa e fragmentação interna, não há saída isolada para nenhum país. “Ou nos juntamos e procuramos parceiros para construir um mundo compartilhado, ou seremos uma região que representa a pobreza no mundo de hoje”, afirmou.
Integração regional e vocação multipolar
O presidente brasileiro recordou que há mais de uma década a CELAC declarou a América Latina e o Caribe como uma zona de paz, e que essa vocação precisa ser mantida diante das novas ameaças geopolíticas. “Nossa região não deseja ser palco de disputas hegemônicas. Não queremos uma nova Guerra Fria”, disse Lula. “Nossa vocação é sermos eixo de uma ordem multipolar na qual o Sul Global esteja devidamente representado.”
Lula também elogiou o papel da China na criação do fórum China-CELAC, há dez anos, destacando o pioneirismo da iniciativa em tempos de retração do multilateralismo. “Espero que sigamos trilhando novos caminhos com o mesmo espírito demonstrado pela China ao estabelecer esse fórum conosco. Que os próximos dez anos sejam ainda mais transformadores”, disse.
Parceria com a China: infraestrutura e desenvolvimento
O presidente foi enfático ao afirmar que o apoio da China é decisivo para alavancar grandes projetos de infraestrutura e fomentar um modelo de desenvolvimento mais justo e sustentável. “Não precisamos de vetores de exportações, mas de rotas de desenvolvimento”, declarou. Para Lula, a prosperidade de longo prazo só é possível com trocas equilibradas entre os países e redução das assimetrias globais.
Ele acrescentou que a revolução digital, embora inevitável, não pode aprofundar desigualdades: “A revolução digital não deve criar diferenças entre os países, mas servir como ferramenta de inclusão e progresso comum.”
Em um chamado à cooperação ambiental, Lula afirmou que “América Latina, Caribe e China podem mostrar ao mundo que é impossível enfrentar a mudança do clima sem abdicar do crescimento econômico.”
O presidente brasileiro também propôs uma inovação de grande alcance no campo da governança internacional: “A América Latina e o Caribe podem contribuir elegendo a primeira mulher secretária-geral da ONU, honrando assim o legado da Conferência de Pequim sobre as mulheres”.
Um chamado à unidade e à ação
Encerrando sua fala, Lula dirigiu-se diretamente aos presidentes e chefes de governo presentes: “O futuro da América Latina depende do nosso comportamento”, disse. “Não depende do Xi, do Trump ou da União Europeia. Depende pura e simplesmente se queremos ser grandes ou continuar pequenos.”
A fala de Lula ecoou como um manifesto pela autonomia latino-americana, pela solidariedade entre os países do Sul Global e pela construção de um mundo menos desigual. Em sintonia com as falas do presidente chinês Xi Jinping e da presidenta do NDB, Dilma Rousseff, Lula propôs uma nova era de cooperação centrada na igualdade, na soberania e na justiça social.