Segundo Malu Gaspar, do jornal O Globo, interlocutores de Bolsonaro já cogitam esse desfecho como uma espécie de “exílio virtual”, que o privaria de sua principal ferramenta de influência política. “Moraes criou o exílio virtual. Vão tentar silenciar o Bolsonaro nas redes, matá-lo civilmente”, protesta uma pessoa próxima a Bolsonaro com trânsito no meio jurídico.
Esse tipo de sanção já foi imposta pelo ministro Alexandre de Moraes a outros investigados nos processos sobre os ataques golpistas de 8 de janeiro. É o caso da cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, condenada em abril a 14 anos de prisão após pichar a frase “Perdeu, mané” na estátua da Justiça, em frente ao STF. Débora foi sentenciada pelos mesmos crimes dos quais Bolsonaro é réu: tentativa de abolição violenta do Estado de Direito, golpe de Estado, associação criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.
Aliados temem que, diante do acirramento da tensão entre o STF e Bolsonaro — especialmente após a abertura de um inquérito contra o deputado Eduardo Bolsonaro — o ministro possa impor restrições preventivas ainda antes de qualquer julgamento.
O inquérito em questão foi autorizado por Moraes para apurar suspeita de coação e envolvimento do filho de Jair Bolsonaro em articulações com o governo de Donald Trump contra autoridades brasileiras. Bolsonaro, que deverá prestar depoimento na próxima quinta-feira (5), admitiu que tem custeado as despesas de Eduardo nos Estados Unidos, o que pode levá-lo a ser investigado como cúmplice, caso o parlamentar venha a ser condenado por alguma instância judicial.
A possibilidade de bloqueio de bens, prisão preventiva ou restrição do uso das redes sociais não está descartada pelo círculo mais próximo de Bolsonaro. Em privado, o grupo político avalia que a perda dos canais digitais poderia ser mais prejudicial à sua capacidade de articulação do que uma eventual prisão.
Atualmente, o ex-presidente soma 13,9 milhões de seguidores no X (antigo Twitter) e 26,6 milhões no Instagram. Para efeito de comparação, o presidente Lula (PT) tem, nas mesmas redes, 9,5 milhões e 13,2 milhões de seguidores, respectivamente. Nas duas últimas campanhas presidenciais, Bolsonaro utilizou essas plataformas como principal forma de comunicação com seu eleitorado e de ataque a adversários.