“A extrema direita está em guerra mundial contra o Judiciário”, afirmou Mier. “É uma tática que não é isolada, não é nacional. O neofascismo internacional está muito interligado, compartilha táticas, se comunica todos os dias. É uma guerra articulada para desmontar o poder das instituições judiciais nos países onde atuam”.
De acordo com o jornalista, um dos eixos centrais dessa ofensiva é a tentativa de minar a credibilidade das cortes constitucionais, dos tribunais superiores e do sistema judicial como um todo, com apoio direto de empresas de tecnologia, think tanks conservadores e representantes do legislativo ligados à extrema direita.
“O Eduardo Bolsonaro está nos Estados Unidos agora, reunido com atores poderosos da direita internacional que gostam dele. É ele quem leva o CPAC para o Brasil”, apontou. “Essa articulação está ligada a nomes como Elon Musk, a deputados republicanos como Marjorie Taylor Greene, a empresas como X (antigo Twitter) e a plataformas como Rumble. Todos empenhados em enfraquecer o Judiciário nos Estados Unidos e em outros países”.
Segundo Mier, essa aliança não apenas promove ataques retóricos às instituições, mas busca alterar legislações nacionais para reduzir o alcance dos tribunais, importar mecanismos constitucionais de outros países e deslegitimar decisões judiciais que contrariem os interesses do bloco conservador.
“É um erro gigante cair nessa onda de propaganda evangélica sobre liberdade de expressão absoluta, baseada numa interpretação distorcida da Primeira Emenda da Constituição dos Estados Unidos”, disse. “Essa ideia foi criada por libertários na década de 1970, e agora está sendo usada para justificar a disseminação de fascismo nas redes sociais e ataques sistemáticos ao Judiciário”.
Mier também destacou que o vínculo entre Netanyahu e Trump tem entre seus principais pontos de convergência a hostilidade aberta ao sistema judicial. “A matéria do New York Times sobre a visita de Netanyahu a Washington enfatiza isso: um dos temas da reunião com Trump é justamente como enfraquecer o Judiciário. Os dois estão em guerra contra as cortes dos seus próprios países”.
O jornalista sublinhou que essa retórica de ataque aos tribunais também se reflete no Brasil, por meio do bolsonarismo. “Os bolsonaristas estão em guerra contra o Judiciário daqui. Eles repetem essa mesma lógica: desacreditar ministros do STF, deslegitimar decisões, mobilizar suas bases com mentiras sobre autoritarismo judicial”.
Apesar de reconhecer a possibilidade de críticas pontuais a decisões judiciais, Mier faz questão de separar esse tipo de debate democrático da ofensiva organizada da extrema direita. “Críticas a juízes ou decisões são normais. Mas o que essa rede internacional está promovendo é uma tentativa de mudar leis, de importar a Primeira Emenda para o Brasil, de reduzir o poder do Judiciário. Isso é o fascismo. É a linha auxiliar da extrema direita”.