O escândalo do INSS, que se tornou um dos principais temas nacionais, continua sendo explorado politicamente contra o presidente Lula (PT) e seu governo, embora os fatos revelem que as raízes do esquema remontam à gestão de Jair Bolsonaro (PL). Foi durante o governo anterior que as fraudes se multiplicaram, com envolvimento direto de figuras de alto escalão da gestão da época. Agora, as investigações alcançam também aliados de Hugo Motta (Republicanos-PB), atual presidente da Câmara dos Deputados.
A Conafer, entidade que teve como diretor Jeronimo Arlindo da Silva Junior, o “Júnior do Peixe”, é a segunda instituição com maior volume de descontos associativos no INSS, totalizando a cifra de R$ 484 milhões entre 2019 e 2024. Esses valores, cobrados diretamente de aposentados e pensionistas, estão no centro das apurações da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União.
Além da atuação no gabinete, Júnior do Peixe tem laços políticos com o Republicanos, legenda presidida por Motta. Em 2024, ele tentou disputar o cargo de vice-prefeito de Marizópolis, no sertão da Paraíba, região onde a família Motta mantém forte controle político, pelo partido. Em suas redes sociais, são comuns as imagens ao lado do ex-chefe poderoso, sinalizando proximidade com ele.
Entidade investigada cresceu sob suspeitas
Em 2020, a Conafer foi alvo de inquérito da Polícia Civil do Distrito Federal, com documentos assinados pelo próprio Júnior. Em um dos ofícios investigados, datado de dezembro de 2020, enquanto Júnior ainda atuava na Câmara, ele relata ser o responsável por coordenar o envio de fichas associativas ao INSS e por receber notificações judiciais relativas a fraudes.
Coincidentemente, foi nesse mesmo período que os valores arrecadados pela Conafer saltaram de R$ 350 mil (em 2019) para R$ 57 milhões (em 2020). A escalada continuou nos anos seguintes: R$ 92,2 milhões em 2022 e R$ 202,3 milhões em 2023, consolidando a entidade como um dos principais alvos da operação “Sem Desconto”.
CPI travada por decisão política
O avanço das investigações motivou a oposição a solicitar a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara para apurar os descontos indevidos. No entanto, o presidente da Casa, Hugo Motta, afirmou que não há espaço para mais CPIs em razão do limite regimental de cinco comissões simultâneas.
Apesar disso, Motta indicou a possibilidade de instalar a CPI caso a oposição concorde em retirar outros pedidos protocolados anteriormente. Como alternativa, opositores também apresentaram um requerimento para uma CPI mista, que depende de decisão do presidente do Congresso, senador Davi Alcolumbre.
Bens bloqueados e bilhões em jogo
Segundo a Polícia Federal, o esquema envolve 13 entidades, das quais 11 são investigadas formalmente. Entre 2019 e 2024, os descontos somam R$ 6,3 bilhões — valor que ainda passará por auditoria para definição do que é considerado ilegal.
Como desdobramento da operação, a Advocacia-Geral da União (AGU) solicitou o bloqueio de R$ 2,56 bilhões em bens com base na Lei Anticorrupção. A medida abrange 12 entidades suspeitas, com exceção da Conafer e da Contag, que foram excluídas dessa ação judicial.