Em artigo publicado no Global Times (confira aqui), o psicólogo educacional Terence Ma Tin Shu, com atuação em Hong Kong e na China continental, apresenta casos e reflexões sobre como a IA vem auxiliando esses alunos na comunicação, no aprendizado e no desenvolvimento de habilidades sociais.
Apesar dos avanços, ele faz um alerta enfático: “A IA pode ser uma aliada, mas não deve — e não pode — substituir o contato humano”.
Comunicação visual e expressão emocional
Entre os principais ganhos trazidos pela IA para estudantes com autismo está o estímulo à expressão visual. Muitos desses alunos têm dificuldades de verbalização, mas conseguem se comunicar com muito mais clareza por imagens. Ferramentas de geração de imagens com IA, segundo Terence Ma, estão sendo utilizadas com sucesso em atividades pedagógicas e terapêuticas.
“Com o suporte de um profissional, o aluno pode criar representações visuais de conceitos acadêmicos ou emoções que sente, o que favorece tanto o entendimento dos conteúdos como o desenvolvimento emocional”, explica o psicólogo. Essa abordagem ajuda a promover a autonomia, a criatividade e a confiança dos estudantes.
IA no desenvolvimento de habilidades sociais
Outro campo promissor é o uso de plataformas de IA para o ensino de habilidades sociais. Terence Ma relata ter acompanhado alunos que criaram, com apoio da tecnologia, guias passo a passo sobre como iniciar e manter uma conversa.
Essas instruções estruturadas permitem que o estudante pratique interações por meio de simulações, mediadas por adultos, em ambientes controlados. “Isso reduz a ansiedade social e oferece segurança para que o jovem, aos poucos, enfrente situações reais com mais tranquilidade”, afirma.
O risco da substituição da empatia
Apesar dos benefícios, Terence Ma alerta para um risco crescente: a substituição das relações humanas por interações com a IA, especialmente no campo da saúde mental. Muitos adolescentes já recorrem a chatbots em momentos de angústia ou solidão, sobretudo durante a noite, quando o acesso a profissionais é limitado.
“Embora os bots possam oferecer alívio momentâneo, suas respostas são genéricas e não têm a sensibilidade que um ser humano pode oferecer”, observa. Ele relata casos de jovens que preferem conversar com a IA em vez de procurar os pais ou um psicólogo. “Isso os priva do acolhimento emocional que só o vínculo humano é capaz de proporcionar.”
Um ecossistema de apoio com tecnologia e afeto
A conclusão de Terence Ma é clara: a IA pode ser extremamente útil, desde que integrada a um ecossistema que priorize a empatia, o acompanhamento individualizado e a convivência familiar. O uso responsável da tecnologia deve caminhar junto à valorização das relações humanas.
“A chave está no equilíbrio. A IA deve funcionar como um complemento que fortalece a autonomia dos alunos, mas nunca como substituta da presença, do afeto e da escuta ativa de professores, terapeutas e familiares”, afirma. Para os estudantes com autismo, isso significa a possibilidade de um futuro mais acessível e digno — sem abrir mão daquilo que nos torna humanos.