Uma das principais manifestações desse descontentamento é a Declaração Anti-Tarifas, já assinada por 980 pessoas até o momento da publicação. O documento foi articulado por especialistas e economistas norte-americanos, entre eles os laureados com o Prêmio Nobel Vernon Smith e James Heckman.
“As tarifas da atual administração são motivadas por uma compreensão equivocada das condições econômicas enfrentadas pelos americanos comuns. Antecipamos que os trabalhadores americanos suportarão o peso dessas políticas equivocadas na forma de aumento de preços e do risco de uma recessão autoinfligida”, diz o texto.
Os signatários ainda criticam o critério adotado pelos EUA para impor tarifas sobre outros países. “As taxas de tarifa ‘recíprocas’ ameaçadas e impostas pelos Estados Unidos são calculadas com base em uma fórmula errônea e improvisada, sem qualquer respaldo na realidade econômica”, alertam, destacando que “a janela para reverter essas políticas incoerentes e prejudiciais está se fechando”.
Protestos e pressão política
Neste sábado, milhares de pessoas foram às ruas de Washington e de outras cidades norte-americanas para protestar contra diversas políticas do governo, incluindo deportações, demissões no funcionalismo público e o envolvimento em guerras, como nos conflitos em Gaza e na Ucrânia, segundo a agência Reuters.
Indústria automotiva impactada
O setor automotivo é um dos mais afetados pelas tarifas. De acordo com a Reuters, três dos modelos mais populares da General Motors — todos produzidos fora dos EUA — agora enfrentam tarifas elevadas, o que pode encarecer significativamente seus preços nas concessionárias. A Ford também alertou seus revendedores, em comunicado obtido pela CNN, que os custos adicionais decorrentes das tarifas devem começar a incidir sobre os veículos entregues a partir de junho, afirmando que “certas tarifas provavelmente permanecerão em vigor por algum tempo”.
Uma análise do Barclays reduziu em 40% a estimativa de lucro antes de juros e impostos da GM para 2025, atribuindo a queda a um impacto tarifário bruto de cerca de US$ 9,5 bilhões. Para a Ford, a projeção caiu 60%, com impacto estimado em US$ 7 bilhões.
Segundo Zhou Mi, pesquisador sênior da Academia Chinesa de Comércio Internacional e Cooperação Econômica, os efeitos das tarifas estão afetando profundamente a cadeia de suprimentos, tornando inviável a manutenção da produção nos moldes anteriores. “A instabilidade pode lançar dúvidas sobre a continuidade da produção, o que pode levar à redução da participação de mercado das empresas, afetar o emprego e gerar incertezas econômicas mais amplas nos EUA”, afirmou ao Global Times.
Turismo e logística também sentem os efeitos
Outros setores da economia também relatam prejuízos. A empresa de logística DHL anunciou a suspensão temporária do envio de remessas para consumidores nos EUA com valor alfandegário superior a US$ 800, em razão de mudanças regulatórias que têm causado atrasos significativos nas entregas.
No turismo, dados do Departamento de Comércio dos EUA apontam queda de quase 12% no número de visitantes estrangeiros em março, em comparação com o mesmo mês de 2024. A retração é a mais expressiva desde os primeiros meses da pandemia de COVID-19. Visitantes da Europa Ocidental, América Central e Caribe registraram quedas de 17%, 24% e 26%, respectivamente.
Zhou alertou ainda que os prejuízos podem ir além da inflação: “A ordem de mercado pode sofrer danos severos com a escassez de suprimentos, mergulhando a economia dos EUA em crises mais profundas e levando investidores a redirecionar capitais para mercados mais estáveis, seguros e previsíveis”.
(Com informações do portal Global Times)