Nesta quarta-feira (7), terá início, no Vaticano, o Conclave, ritual secular para a escolha do novo papa. Durante o conclave, os cardeais eleitores se reúnem a portas fechadas na Capela Sistina para eleger o sucessor do papa Francisco.
A eleição segue as regras estabelecidas pela constituição apostólica Universi Dominici Gregis, promulgada por João Paulo II em 1996.
Preparativos
Os 133 cardeais eleitores — com menos de 80 anos — se instalam na residência de Santa Marta e em outros edifícios do Vaticano, onde permanecerão durante todo o conclave.
Na manhã do primeiro dia, os purpurados participam de uma missa solene na Basílica de São Pedro.
À tarde, trajando o hábito coral, reúnem-se na Capela Paulina do Palácio Apostólico e, em procissão rumo à Capela Sistina, invocam a assistência do Espírito Santo.
Diante do afresco do Juízo Final, pintado por Michelangelo, os cardeais prestam juramento com a mão sobre o Evangelho.
Segundo um ritual herdado da Idade Média, o mestre de cerimônias pronuncia a frase extra omnes (“todos fora”). As pessoas que não participam da eleição deixam a sala e, em seguida, as portas são fechadas. O objetivo é impedir qualquer influência externa sobre os cardeais.
A eleição
Por sorteio, três cardeais são escolhidos como “escrutinadores”; outros três como infirmarii, encarregados de recolher o voto dos cardeais doentes; e mais três como revisores, para verificar a contagem.
Sentados em conjunto, os cardeais recebem cédulas retangulares com a inscrição “Eligo in Summum Pontificem” (“Elejo como Sumo Pontífice”) na parte superior, com um espaço em branco abaixo.
Os votantes escrevem à mão o nome do seu candidato, “com caligrafia o mais irreconhecível possível”, e dobram a cédula. Em teoria, é proibido votar em si mesmo.
Cada cardeal se dirige ao altar, segurando a cédula no ar para que todos vejam, e pronuncia em voz alta o seguinte juramento em latim:
“Pongo por testemunha Cristo Senhor, que me julgará, de que dou meu voto àquele que, diante de Deus, acredito que deve ser eleito.”
Ele deposita a cédula sobre um prato e a desliza na urna diante dos escrutinadores, inclina-se perante o altar e retorna ao seu lugar.
Os cardeais que, por motivos de saúde, não conseguem se aproximar do altar entregam seu voto a um escrutinador, que o deposita na urna em seu lugar.
A apuração
Uma vez recolhidas todas as cédulas, um escrutinador agita a urna para misturá-las, as transfere para um segundo recipiente e outro faz a contagem.
Dois escrutinadores anotam os nomes, enquanto o terceiro os lê em voz alta e perfura cada cédula com uma agulha no ponto em que está a palavra “Eligo”. Os revisores verificam então se não houve erros.
Se nenhum cardeal alcançar dois terços dos votos, os eleitores realizam nova votação. Exceto no primeiro dia, estão previstas duas votações pela manhã e duas à tarde até que um papa seja proclamado.
As cédulas e as anotações feitas pelos cardeais são queimadas em um fogão a cada duas rodadas de votação. A chaminé, visível pelos fiéis da Praça de São Pedro, solta fumaça preta caso nenhum papa tenha sido escolhido e fumaça branca em caso de eleição.
Após três dias de votação sem resultado, o processo é suspenso por um dia de oração e retomado no dia seguinte.
“Habemus Papam”
O eleito deverá responder a duas perguntas feitas pelo decano: “Você aceita sua eleição canônica para Sumo Pontífice?” e “Como deseja ser chamado?”. Se responder sim à primeira, torna-se papa e bispo de Roma.
Um a um, os cardeais prestam um gesto de respeito e obediência ao novo papa antes do anúncio oficial aos fiéis.
Do balcão da Basílica de São Pedro, o cardeal protodiácono anuncia: Habemus Papam. Em seguida, o novo pontífice aparece e concede sua bênção urbi et orbi (à cidade e ao mundo).
O Conclave de 2025 em números
A partir da tarde desta quarta-feira (7), os cardeais se isolarão na Capela Sistina, no Vaticano, para eleger o sucessor do papa Francisco. A seguir, os números deste conclave:
133: Número de cardeais eleitores com menos de 80 anos, um recorde em relação aos 115 participantes em 2005 e 2013. No total, 52 representam a Europa, 23 a Ásia, 20 a América do Norte, 17 a América do Sul e Central, 17 a África e quatro a Oceania.
69 + 1: Número de países representados pelos cardeais eleitores — outro recorde — aos quais se soma Jerusalém.
70 anos e três meses: Idade média dos eleitores. O mais jovem é o cardeal ucraniano Mykola Bychok (45 anos) e o mais velho é o espanhol Carlos Osoro (79 anos e 11 meses).
81,2%: Percentual de cardeais eleitores nomeados por Francisco (108), que participarão de seu primeiro conclave. Bento XVI nomeou outros 20 e João Paulo II, cinco.
17: Número de cardeais que representam a Itália, país ainda mais representado, embora com peso reduzido. Em 2013, eram 28.
15: Número de países representados pela primeira vez em um conclave, entre eles Haiti, Cabo Verde, Papua-Nova Guiné, Sudão do Sul e Paraguai.
4: Número de votações diárias — duas pela manhã e duas à tarde — exceto no primeiro dia, até a escolha de um novo papa.
89: Número mínimo de votos necessários para eleger um pontífice, correspondente a dois terços dos votos.
2: Número de estufas utilizadas para anunciar o resultado da votação por meio da fumaça (fumata). Em uma, queimam-se as cédulas; na outra, são usados produtos químicos para colorir a fumaça de branco — em caso de eleição — ou preto.
3: Número de sotainas brancas, em três tamanhos diferentes, que aguardam o novo pontífice na “Sala das Lágrimas”.
2: Número de dias que duraram os dois últimos conclaves: a eleição de Bento XVI, em 2005, e a de Francisco, em 2013.
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