O recente depoimento no Supremo Tribunal Federal (STF) do general da reserva Freire Gomes, ex-comandante do Exército no governo federal passado, mostra, às claras, que há, sim, uma espécie de "talhamento" para mentir dentro dos ensinamentos da caserna.
No STF, Freire Gomes tentou falsear a verdade e foi advertido pelo ministro Alexandre de Moraes de que poderia ser enquadrado no crime de falso testemunho (na polícia o senhor pode mentir; aqui no tribunal, não!). O general recuou e depois confirmou a trama golpista.
O depoimento do militar nos leva à leitura do romance “Diários da Caserna: Dossiê Smart – a história que o Exército quer riscar”, de autoria de Rubens Pierrotti Jr., coronel da reserva, advogado e escritor, lançado pela editora Labrador, em 2024.
Em uma entrevista naquele ano, Rubens Pierrotti Jr. disse o seguinte: “O Exército Brasileiro é muito cioso com o culto às tradições. E, se tem uma tradição que acompanha o Exército há muito tempo, é a mitomania, essa compulsão em mentir. Os militares mentem para ‘proteger a imagem’ da instituição, mas não percebem que, ao fazê-lo, acabam expondo-a muito mais. Durante a Ditadura Militar, a produção de mentiras foi farta. Vejam a versão do Exército para a morte do Vladimir Herzog com aquela foto grotesca de suicídio no DOI-CODI; as investigações falsas para justificar o desaparecimento do Rubens Paiva; ou o inquérito policial militar sobre a bomba do Riocentro”.
“Se os comandantes militares tivessem uma postura mais ética e comprometida com a verdade, a página da Ditadura aí sim teria sido virada. Mas como virar a página que os brasileiros ainda não conseguiram ler, borrada por esse transtorno incontrolável e duradouro do Exército em mentir?” – indaga coronel Pierrotti. E arremata: “Como podemos constatar, a mitomania está entranhada no Exército Brasileiro”.
Se recorrermos "Aos Fatos", uma organização não-governamental, podemos constatar, à saciedade, uma amostra das mentiras contadas por militares: Chamar o golpe de ‘revolução’; Inflar a ‘ameaça comunista’; Simular normalidade institucional; Camuflar as mortes por tortura e execuções; Forjar acusações e crimes para culpar opositores; Omitir e manipular dados para ocultar a realidade do país; e assim por diante.
Os recentes acontecimentos envolvendo militares numa tentativa de golpe de estado fracassada desnudam completamente a versão doutrinária de que “vivemos numa nação de mentirosos”, que, agora, desemboca naquilo que a mesma doutrina social convencionou chamar de "a tradição da mentira no Exército Brasileiro", havido com as "mentiras,... mentirinhas,.... mentiradas..."
