Segundo o procurador-geral da República, Paulo Gonet, o filho do ex-presidente tem agido de maneira pública para “ameaçar, constranger e impedir” o avanço das investigações relativas à tentativa de golpe de Estado, processo em que Jair Bolsonaro figura como principal investigado.
Um ministro da Primeira Turma, ouvido reservadamente pela reportagem, afirmou que a solidariedade interna à decisão de Moraes "tende a chegar a 100%", podendo haver apenas "uma exceção". Ele classificou como "absurda" a ameaça americana de sanções contra o ministro. “Não há precedentes no mundo para esse tipo de sanção contra um juiz de outro país”, analisou.
O mesmo integrante do Supremo propôs uma analogia para demonstrar a gravidade da interferência externa: “Para dimensionar o tamanho da violação à soberania brasileira, basta inverter a situação: brasileiros estão sendo deportados dos Estados Unidos. Imaginemos um juiz brasileiro decretar a prisão dos agentes policiais americanos que atuam nessas ações?”, questionou. E concluiu: “Sendo que a situação é ainda mais grave, porque não há um cidadão americano sequer em litígio nesse caso”.
As críticas internas também se voltaram ao Ministério das Relações Exteriores. Um segundo ministro do STF afirmou que, após a declaração do secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio — que confirmou a possibilidade de sanções contra Moraes —, o Itamaraty tinha a responsabilidade de oferecer uma resposta firme. “Acho que todos ali no governo sabem que havia a expectativa de uma reação oficial que não veio. A resposta que tivemos é que a diplomacia opera de uma forma diferente. Mas houve a fala de um integrante do primeiro escalão”, apontou o magistrado.
Ainda de acordo com a reportagem, o Itamaraty afirmou que o chanceler Mauro Vieira tem mantido Moraes informado pessoalmente sobre os desdobramentos das conversas com o governo dos Estados Unidos. “Diplomacia nem sempre se faz pela mídia”, declarou um integrante do Ministério. Ele ponderou: “Ninguém pode garantir resultados na Washington de hoje em dia, mas é nossa obrigação tentar, enquanto ainda é possível evitar uma crise. Mas não cabia queimar a largada e fechar portas só por conta da declaração”.
Nos bastidores, membros do STF também enxergam o episódio como parte de um movimento mais amplo. Um ministro da Primeira Turma afirmou que o bolsonarismo se transformou em “instrumento das big techs, que estão dentro do governo americano, e que têm usado o poder de Washington para pressionar a Justiça do Brasil, à medida que se aproxima o julgamento de uma regulamentação das plataformas”. Essa visão é compartilhada por outros ministros da Corte.