Não demorou. Logo na primeira resposta em seu depoimento no Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) confessou que nunca houve prova de fraudes no processo eleitoral, apesar de manter essa narrativa para incentivar seus seguidores mobilizados pela intenção de dar um golpe de Estado.
“Não tinha prova de nada no tocante a isso aí [processo eleitoral], foi um desabafo meu”, disse Bolsonaro ao comentar a acusação contra o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na chamada “reunião do golpe”, que aconteceu em 5 de julho de 2022.
Apesar do deslize, o ex-presidente desconversou da pergunta principal de Alexandre de Moraes, relator do processo. Para isso, ele mencionou outros políticos, como o ministro do STF Flávio Dino, que já questionaram a eficácia das urnas eletrônicas, ainda que as declarações fossem feitas há mais de 10 anos.
O ex-presidente havia prometido “falar por horas” e exibir vídeos em meio ao depoimento, mas Moraes negou o pedido de sua defesa para expor os conteúdos, apontando que o interrogatório não é o momento adequado para a apresentação de novos materiais.
A oitiva integra as investigações sobre a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. Bolsonaro já havia sido citado em outros inquéritos e agora responde como réu por organização criminosa armada; tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito; golpe de Estado; dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado.
Por que Bolsonaro depõe ao STF
Bolsonaro se tornou réu junto de sete aliados em março deste ano por incitar e participar de uma trama golpista, que previa o assassinato do presidente Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin e de Moraes, para anular o resultado das eleições de 2022, que deram vitória ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) aponta que o ex-presidente teria participado de articulações para invalidar o resultado eleitoral, usando sua posição para tentar mobilizar setores das Forças Armadas, aliados e apoiadores.
O inquérito inclui investigações sobre reuniões com militares, minuta de decreto de golpe encontrada com aliados, ataques ao sistema eleitoral e discursos que incentivaram os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.
Bolsonaro é o sexto réu a depor no processo. Já participaram de interrogatórios, desde esta segunda (9), o tenente-coronel Mauro Cid, o ex-diretor da Abin Alexandre Ramagem, o ex-comandante da Marinha Almir Garnier, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres e o general Augusto Heleno.
Cid, ex-ajudante de Moraes, relatou que o plano golpista previa o monitoramento da rotina de Moraes, um dos principais alvos do grupo. Hoje, o ex-presidente e o magistrado estão frente a frente na oitiva.
Depois do ex-presidente, o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira e o general Walter Braga Netto serão ouvidos.