O cardeal norte-americano Robert Francis Prevost foi eleito Papa nesta quinta-feira (8) e adotou o nome de Leão XIV. Antes de se tornar o Bispo de Roma, Prevost foi missionário no Peru, onde carrega o legado de um histórico de forte posicionamento contra os abusos de direitos humanos cometidos durante o governo de Alberto Fujimori (1990–2000).
Fujimori foi ditador do Peru na década 1990 e foi citado em diferentes análises como uma referência para o governo de Jair Bolsonaro (PL). O ex-presidente brasileiro inclusive torceu abertamente por Keiko Fujimori, filha do ditador, nas eleições presidenciais do Peru em 2021.
Em 2017, após o então presidente Pedro Pablo Kuczynski conceder indulto humanitário a Fujimori, Prevost cobrou do ex-ditador um gesto de contrição pessoal.
Em Barrios Altos, em novembro de 1991, 15 pessoas — entre elas um menino de 8 anos — foram executadas a tiros por integrantes do grupo paramilitar Colina, sob ordens do governo, sob a falsa suspeita de ligação com grupos terroristas.
Em julho de 1992, nove estudantes e um professor da Universidade La Cantuta foram sequestrados e assassinados, também pelo grupo Colina. Os corpos foram encontrados meses depois em valas clandestinas, com sinais de tortura e execução sumária.
Fujimori foi condenado em 2009 a 25 anos de prisão por envolvimento direto nesses massacres, além dos sequestros do jornalista Gustavo Gorriti e do empresário Samuel Dyer.
Também pesam sobre seu governo acusações de corrupção sistêmica, esterilizações forçadas de 270 mil mulheres indígenas e desvio de fundos públicos.
A eleição de Leão XIV, portanto, não representa apenas um marco histórico como o primeiro Papa nascido nos Estados Unidos, o segundo com nacionalidade latino-americana (por ser naturalizado peruano), mas também reacende a memória de seu papel em defesa das vítimas de regimes autoritários na América Latina.