Durante uma abordagem policial que resultou na morte de Gabriel Ferreira Messias da Silva, de 18 anos, imagens das câmeras corporais mostram um dos policiais militares pedindo a um colega que desviasse o equipamento — aparentemente para evitar o registro da ação. O caso aconteceu em novembro de 2024, na Zona Leste de São Paulo.
De acordo com a Defensoria Pública, Gabriel não estava armado. Ele foi abordado ao sair de um posto de combustíveis e tentou fugir, sendo atingido por disparos. Ele caiu na esquina das ruas Belém Santos e Colônia Leopoldina, na Vila Císper.
Dois policiais militares envolvidos na ação foram afastados temporariamente. De acordo com o boletim de ocorrência, os agentes alegaram que agiram em "legítima defesa", afirmando que Gabriel teria "apontado uma arma" para eles. No entanto, as imagens das câmeras corporais mostram os policiais atirando de dentro da viatura na direção do jovem que estava desarmado.
Nas imagens obtidas pela TV Globo, é possível ver que, após os disparos, os policiais descem da viatura. Um dos agentes pergunta se a moto de Gabriel era roubada, e ele nega. Minutos depois, um policial diz: “Vira, vira, vira”.
Segundo a Defensoria Pública, esse momento marca a alteração proposital do ângulo das câmeras corporais. O órgão afirma ainda que nenhuma arma — além das dos próprios policiais — é visível nas gravações. As imagens mostram o sargento Ivo Florentino dos Santos chutando uma arma no chão pouco antes de ela aparecer próxima ao corpo de Gabriel.
Os PMs
alegaram que o jovem sacou uma arma ao se levantar, o que justificaria o
disparo. No entanto, o relatório da Defensoria, com base nas imagens,
aponta que não havia arma na cena logo após os tiros.
Absurdo
As câmeras corporais dos policiais registraram a perseguição e o momento em que um dos agentes atira contra Gabriel, que cai no chão. Quando os policiais se aproximam, ele ainda está vivo e pede socorro:
“Sou trabalhador, senhor. Para que fazer isso comigo, meu Deus? Me ajuda, por favor”, disse.
Diante das imagens, a Defensoria Pública acionou o Ministério Público, que solicitou o afastamento cautelar dos policiais das atividades de rua. “Há algo estranho, alguma inconsistência na versão apresentada pelos policiais. É o que mostram as câmeras corporais”, afirmou a defensora pública Andrea Barreto.
Fernanda Ferreira da Silva, mãe de Gabriel, assistiu às imagens registradas pelas câmeras corporais dos policiais.
"Elas mostram nitidamente que, em volta do Gabriel, não tem arma nenhuma. Depois, mostra o policial que atirou nele falando: 'Vira, vira, vira', que é quando eles viram a câmera para a parede. Quando a câmera volta, mostra a arma no chão", disse.
Gabriel trabalhava como entregador. A investigação sobre sua morte está sob responsabilidade do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia Civil. Fernanda é recepcionista na unidade.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública informou que a investigação da Polícia Civil corre sob sigilo. O inquérito da Polícia Militar foi finalizado e encaminhado. A secretaria declarou ainda que não tolera desvios de conduta e que age com rigor diante de excessos, “como a sociedade espera”.