A recente visita de Estado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à França foi mais do que uma demonstração de diplomacia: foi a consagração de uma liderança mundial. Nenhum outro brasileiro, em nenhum tempo, desfrutou de tamanho prestígio internacional. Recebido com honras pelo presidente Emmanuel Macron, Lula não apenas consolidou laços políticos e econômicos com um dos principais países da União Europeia, mas também foi alvo de reverências raras no cenário global.
Lula foi homenageado pela prestigiada Academia Francesa, uma instituição guardiã da cultura e do pensamento franceses. Também recebeu distinções da Universidade de Paris e da prefeita da capital, Anne Hidalgo, que o qualificou como um símbolo global da justiça social e da luta contra a desigualdade. Tais homenagens não são apenas protocolares — elas refletem o reconhecimento de um estadista cuja trajetória inspira além das fronteiras nacionais.
Paradoxalmente, o mesmo Lula que é reverenciado em Paris enfrenta uma realidade distinta em seu próprio país. As duas pesquisas mais recentes — tanto da Genial/Quaest quanto da AtlasIntel — apontam para uma piora na avaliação de seu governo. A aprovação caiu nos dois levantamentos, acompanhada por um avanço de hipotéticos adversários nas intenções de voto para a eleição presidencial de 2026. O presidente, que no início do mandato parecia consolidar uma ampla frente de apoio, agora vê-se diante de um ambiente político potencialmente mais hostil.
O paradoxo torna-se ainda mais evidente diante dos bons indicadores econômicos. O Brasil registra crescimento acima das expectativas, com avanço do PIB, distribuição de renda mais justa, valorização do real, queda da inflação, num contexto de responsabilidade fiscal e forte geração de empregos. Ainda assim, tais dados positivos parecem não se converter, ao menos por ora, em capital político tranquilizador.
Essa desconexão aponta para algo mais profundo: a formação de um cerco oposicionista que não se limita à crítica política, mas que busca minar, desde já, a viabilidade de uma eventual reeleição. O bolsonarismo, mesmo sem liderança formal e enfrentando impasses judiciais, permanece como um polo mobilizador nas redes e nas ruas. E há ainda a ação do consórcio de setores da elite econômica e da mídia hegemônica que nunca aceitaram o retorno de Lula ao Planalto.
É necessário dizer com clareza: Lula merece todas as homenagens que recebeu em Paris. Nenhum outro brasileiro é tão reconhecido e celebrado internacionalmente quanto ele — e talvez jamais venha a ser. Mas o desafio que se impõe a ele agora é outro: fazer com que o Brasil enxergue o que o mundo já reconhece. As condições para isso estão dadas.
Se Lula quiser transformar prestígio internacional em força política interna, será preciso mais do que indicadores positivos — será necessária comunicação direta, enfrentamento firme das forças antidemocráticas e reconstrução de pontes com os setores que hoje se mostram indiferentes ou críticos.
Bons índices são importantíssimos. Não são, porém, suficientes para a vitória numa campanha que se anuncia feroz, marcada pelas práticas criminosas dos adversários. O fator decisivo para a vitória será conseguir pôr em ação instrumentos políticos capazes de unir os democratas contra o fascismo numa frente a mais ampla possível.
Igualmente, será necessário energizar os setores sociais na defesa das conquistas obtidas. Na cadeira de presidente, Lula dispõe de meios para engajar a sociedade em favor das transformações que traduzem este seu terceiro mandato. É pelo aprofundamento das mudanças que se justifica uma nova postulação presidencial.
O tempo joga a favor ou contra, a depender da conduta a ser adotada.